Amadurecer sem culpa de seguir vivo



Os humanos estão vivendo por mais tempo e a leveza da maturidade só é conquistada por quem pode olhar para o seu passado sem arrependimentos, responsabilizando-se por seus erros sem sentimento de culpa. Quem ultrapassa a lei é culpado por isso, porém o sentimento de culpa não surge apenas em contravenções. Ele pode surgir diante da própria existência, sem um sentido palpável, e que teima em aparecer como uma angústia. A sensação de fardo, portanto, nem sempre advem de atitudes executadas.
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 Por que motivo, algumas pessoas confundem a responsabilidade por sua vida com um inquietante e pesado sentimento de culpa? Sentir culpa sem localizar a sua agressividade, pode envolver uma dívida de contabilidade com regras internas que foram redigidas de forma complexa.  Muitas vezes esse afeto é conseqüência de uma negociação realizada  inconscientemente, ou seja, fora de um acesso racional e claro. Sentimentos assim contemplam, muitas vezes, uma falta do amadurecimento da pessoa no que se refere ao seu patrimônio amoroso.
O amor, a fim de se florescer de maneira saudável, equilibra a medida entre o amor próprio e o amor pelos outros e também condensa as raízes de raiva suplantadas pela confiança de cada um em suas intenções bondosas. O bem de cada um corresponde a sua capacidade de entrega, de doação por escolha e não por dever.
Quando alguém é dependente do reconhecimento dos outros sobre a sua bondade,  acredita que a única maneira de livrar-se de sua culpa, por sentir algo que considere indevido, acontece apenas quando não decepcionar ou frustrar aqueles que ama. Realiza uma pequena negociata inconsciente: eu obedeço ao que imagino que queiram de mim, ou não me posiciono, faço de conta que não vivo, e ninguém irá sentir raiva de mim.  
            A culpa de se sentir vivo carregam aqueles que possuem uma dívida em relação aos seus pais, contraída enquanto estiverem prisioneiros de um acordo  mágico firmado na premissa de que se não crescerem, a sua raiva não irá crescer. Se ninguém crescer, ninguém irá envelhecer. A maturidade torna-se um perigo nessas situações, pois convoca a tomada de posições que não agradam gregos e troianos. O lugar aparentemente seguro para alguns em relação ao pesado sentimento de culpa é de não mostrar que estão vivos, não firmar a sua identidade, pois essa, com certeza, não satisfaz a todos.
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 Amadurecer implica em sentir-se mais leve e menos culpado quando se entrega amor por prazer e não por dever nem negociações com o sentimento de culpa pela ambivalência. Esse só é superado através da aquisição da humildade diante de cada posição, quando se percebe que, se os outros não sabem lidar com as suas frustrações diante de nós, isso não acontece por nossa causa, e muito menos por nossa culpa.
A leveza da maturidade no envelhecimento está na liberdade de perceber as outras pessoas como seres que amamos, porém sem a arrogância de acreditar que controlaremos as dores alheias se deixarmos de viver. Viver não é um egoísmo se reconhecermos em nós a riqueza amorosa que possuímos.

 Simone Engbrecht- psicanalista

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