A maturidade psíquica é como uma semente dentro de um fruto maduro



        
Foto: Reprodução
As frutas, a fim de serem consumidas mais pelos humanos do que pelos pássaros, são estudadas em seu amadurecimento para que possam sobreviver longe à natureza de sua concepção. Há um programa genético para o fruto amadurecer, revelador do momento em que ele deixa de ser um protetor de sementes para ser transformado em um sedutor de animais. Esse é o instante mais profundamente pesquisado hoje, com objetivo de que o período onde o fruto está maduro possa ser regulado por relações comerciais. Utilizaremos essa metáfora para refletirmos sobre a maturidade psíquica, aquela que nem sempre anda no mesmo ritmo da maturidade física e pode estar regulada por uma sociedade manipuladora de interesses.
         O ideal de consumo hoje parece ser o de ter um corpo jovem,  marcado biologicamente para reproduzir e, portanto, seduzir. O ser humano adquiriu maior longevidade, porém, ainda o seu ideal de amadurecimento continua sendo a juventude, deixando qualquer outra idade vítima do fantasma do apodrecimento.
         A maior longevidade nos corpos  humanos alcançou uma transformação. Deixamos de ser apenas sementes dentro de um corpo a ser consumido porque é jovem,  para adquirirmos um novo caminho: nos tornarmos  um grão duro. A maturidade psíquica se constrói com o tempo no interior de um corpo que consegue cuidar dos filhos, entretanto, ela só se desenvolve com o endurecimento da identidade diante das frustrações.
Foto: Reprodução
         Uma pessoa, ao carregar a maturidade em sua mente, traz consigo a alegria de viver de uma criança, mas não uma fragilidade infantil. Uma criança se desespera ao se perceber sozinha, pois, é pequena para dar conta do que sente. Somente aos poucos, a formação de uma identidade possibilita a administração da própria vida, sem a necessidade de se defender da realidade como ela é.
         A sociedade de consumo incentiva a um amadurecimento forçado,  como um fruto cujo amadurecimento é efêmero e que apodrece rapidamente. Nos questionamos sobre o quanto, após uma  juventude forçada, muitos, influenciados pela busca de uma aparência que visa conquistar uma autoestima empobrecida, não saibam mais proteger os seus valores, ou seja, as sementes que trazem em si e que são capazes de transformar-se em grãos de sabedoria. Nosso psiquismo não envelhece nem apodrece, se for cuidado como um grão e não como uma fruta.
Simone Engbrecht - psicanalista
        

Postagens mais visitadas deste blog

Ao Cair a Ficha, Escolhemos

Envelhecer é um Privilégio

A Adolescência da Humanidade