Conquistas a partir de mudanças


Os compositores e poetas talvez se sintam os ‘últimos românticos’[i] Ainda bem que não o são. Recordaremos algumas mudanças no lugar do amor romântico que provocam entusiasmo.
Foto: Reprodução
O amor possui hoje a perspectiva de encontrar a sua forma mais ativa nas mulheres nas últimas décadas. Ao nos remetermos aos anos 70, alguns irão recordar, outros  imaginar, por não terem ainda nascido nessa época, o fato de que as mulheres precisavam de um homem para assinar qualquer solicitação de crédito. Mesmo que a mulher já possuísse renda, a impossibilidade de se movimentar como alguém confiável e independente ainda era evidente.
Sem acesso a um lugar próprio, dizia-se que uma mulher tinha ficado para ‘titia’ por não ter um marido que pudesse assinar por ela. O casamento era um meio de aquisição de um lugar onde cada uma pudesse ser dona de um lar, ainda que não de si. Quando isso não acontecia, as mulheres permaneciam em um lugar de servidão ao pai ou a algum outro homem da família, por isso  “titia”  era pejorativo.
Notamos que não foi apenas o divórcio que permitiu que os casamentos pudessem ser questionados sobre o seu sentido quando não havia cumplicidade entre os seus pares: a independência das mulheres promoveu a situação de estar acompanhada como um de tantos outros destinos para a vida.
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 O casamento com liberdade o tornou mais amoroso, pois antigamente o romance, algumas vezes, era um encobridor teatral para parceiros que necessitavam estar unidos por conveniência. O reconhecimento de homens e mulheres estava alicerçado em papéis domésticos fixos:  provedor e dependente. Porém, se os lugares deixados para trás não forem vistos como conquistas de um novo tempo e encarados somente como o prejuízo de uma estabilidade, a servidão nas relações pode permanecer.
A violência pode se instalar nas relações quando a destrutividade se descarrega pela ausência de um amor em laços criados pela liberdade de estar com alguém por desejo, pois estar sozinho também pode ser uma escolha ativa e não o indicativo de não ter sido reconhecido em seu valor. Os poetas deixaram de ser  os últimos românticos para inspirarem amor àqueles que respiram aliviados pela confiança em pessoas independentes.
Simone Engbrecht - psicanalista




[i] Termo que Lulu Santos utilizou na composição de uma canção.  

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