Alimentação e Nutrição
Alimentação não é a mesma coisa
que nutrição. Desenvolveremos aqui uma breve reflexão sobre a relação contemporânea
das pessoas com o ato de comer e a busca por uma identidade através de uma
dieta. Os nutricionistas estudam com profundidade as várias questões envolvidas
na diferença entre os alimentos ingeridos e o que cada pessoa necessita para
que o seu organismo funcione normalmente, porém alguns leigos na área se consideram
suficientemente informados e capazes para abdicarem de qualquer orientação e
apenas pertencerem a grupos de consumo de determinados alimentos ou a seguirem
dietas que anunciam uma segurança de
saúde ou de boa forma. Por isso, diferenciar alimentação e nutrição
estabelece primeiramente a distância entre o que a cultura indica que seja
consumido e o que cada indivíduo necessita para estar nutrido.
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Também
é comum a associação entre os transtornos alimentares a formas de alívio da
ansiedade. Porém, o desequilíbrio entre a quantidade que o corpo demanda e o
quanto recebe de comida é apenas um sinal de que algo está desconhecido na
relação de um indivíduo consigo e o mundo. Algumas pessoas não conseguem
escutar a sua fome ou a sua saciedade e, muitas delas, até mesmo encontram-se
surdas diante de sua angústia, apenas apresentando comportamentos compulsivos. A angústia pode sinalizar que algo não está
bem no interior da pessoa, principalmente quando essa encontra alívio num ato
que lhe faz mal. Para pesquisar esse alarme é necessário entender que um alívio
de angústia não corresponde a um prazer, pois atitudes repetitivas não possuem
sabor.
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É
possível examinar com maior precisão intolerâncias alimentares nas pessoas e
componentes químicos indesejáveis nos alimentos, porém isso não deveria apenas
somar informações e criar identidades. O processamento dessas descobertas
auxilia ao bem estar quando cada um pode ter maior consciência de sua relação
com seu corpo e com o meio ambiente e quando puder ser visto como único. Podemos
metaforicamente dizer que a informação é como o alimento, a fim de nos
nutrirmos é necessário que seja processado de maneira especial. Para termos
conhecimento, é necessário que alguém nos auxilie a nos nutrirmos adequadamente de informações que são relevantes para nossa
dieta específica. Dietas milagrosas podem servir para uns e não para outros. A
fim de que alguém encontre um ponto de equilíbrio em sua alimentação, quando
não se sente bem com ela, é necessário a busca pelo conhecimento, ou seja, um
nutricionista. Na nutrição, a pessoa é visível e única.
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A
ansiedade pode causar pressa na procura por seu alívio, e pode, quando ouvida,
fornecer um aviso de que algo não foi percebido e necessita de cuidado. Concluímos citando Quintana: “esses
que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as
diferentes nuanças de uma cor”. Alimentação é diferente de nutrição, comer
é diferente de saborear e alívio é diferente de prazer. Assim como as palavras,
as cores e os sabores, as pessoas necessitam e desejam respeitar-se em suas
sutilezas, pois são essas que as retiram da escuridão da invisibilidade.
Simone Engbrecht- psicanalista
Simone Engbrecht- psicanalista