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Mostrando postagens de junho, 2020

Servidão ao tempo

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         Escutando a belíssima canção de Gilberto Gil que completou nessa semana 78 anos, faço eco, como homenagem, a alguns trechos: ‘Tempo rei. Não me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido. Transcorrendo. Transformando...Não se iludam. Não me iludo. Tudo pode estar por um segundo’.          Gambá se defendendo através de paralisia imagem: Blog Marsupiais Brasileiros  Uma das   frases repetidas nesse período tão sombrio é ‘tudo vai passar’, como se nos consolássemos de que esse momento infeliz poderia ser considerado pontual. Pensamos, porém que essa frase deve ficar violenta quando escutada por aqueles que perderam entes queridos nessa pandemia. Não puderam sequer se despedir e a vida de alguém que amamos não é algo que simplesmente passa. Sabiamente, Gil transformou o nosso choque diante da finitude em poesia: ‘ tudo pode estar por um segundo’ . O luto, diferente de um estado melancólico, é um processo de elaboração realizado pelo tempo. Uma cicatrização que a vida

Rituais: obediência ou autonomia

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         Diante de tantas incertezas, nos vemos constantemente confrontados com nossa fragilidade. E assim, possuímos uma tendência mortífera a obedecer regras em busca de um amparo sem a possiilidade de nos apropriarmos do sentido para   paciência, para simplesmente darmos um tempo. Não possuímos os rituais de uma cerimônia de passagem de algo que ainda não aconteceu. Estamos diante de um abismo que nos interroga sobre o sentido de nossa existência . Difícil é nos apropriarmos e adquirirmos autonomia frente a essa questão sem a necessidade apressada de uma resposta. Foto: Reprodução   Precisamos modificar alguns hábitos de forma drástica: maior higiene e distância do que antes. E menos ou nenhum tempo para nos despedirmos de quem perdemos em 2020. Tempos sombrios. Sigmund Freud esteve ocupado com a observação e a compreensão de ritos na cultura [i] , conversando com a   antropologia, e demarcou que uma tendência compulsiva pode também se utilizar de atos que aparentemente são

Onde estamos

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                      “Não estamos no mesmo barco, mas na mesma tempestade." Amyr Klink [i]                         Tempos sombrios.  O tempo nos situa a partir de parâmetros de reconhecimento diante de qualquer percepção. Porém, a fim de nos situarmos no espaço necessitamos diferenciar fronteiras e direções. Uma bússola ou um mapa não mostram apenas onde estamos, mas nos apresenta onde está o Norte, onde está o Oriente, onde está o outro... Diante das incertezas reveladas pela Pandemia, precisamos abandonar o desejo de nos situarmos no tempo a partir de  falsas previsões de futuro, mas nos reencontrarmos  no espaço em relação aos humanos.             Foto: Reprodução A frase de Amyr Klink foi sabiamente pronunciada em programa no canal CNN Brasil, O Mundo Pós Pandemia: ‘ Não estamos no mesmo barco, mas na mesma tempestade’.   A angústia de tempos traumáticos nos impulsiona a imaginar o futuro a partir de duas perspectivas: como uma repetição do passado ou como uma falên