Sugestões Eficazes e a Psicanálise

         
Há um ditado popular que diz que se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Pretendemos desconstruir essa afirmação e também compreender melhor porque algumas sugestões não são eficazes. Conselhos acontecem na vida cotidiana a partir de vínculos amorosos, pais, amigos, pessoas que possuem mais experiência ou que apenas compartilham uma visão mais ampla de uma situação por estarem do lado de fora dela. Porém, eles somente são bem recebidos quando o ouvinte está confiante tanto na intenção carinhosa de quem está lhe doando tempo e palavras, quanto no conteúdo do que for dito o fizer pensar, ou seja, quando ele não depender do conselho para agir. 


            As atitudes de alguém são uma propriedade valiosa em termos de autoria. Quanto mais alguém conquistar a coerência entre o que pensa e realiza, mais irá responsabilizar-se por suas escolhas, que nem sempre estarão apenas de acordo com as suas vontades mais intensas. Pensamentos necessitam de reflexões e de muito trabalho elaborativo para serem transformados em algo sobre o qual seja possível colocar uma marca registrada. Apaixonar-se por suas metas mais do que por suas necessidades implica em alguém conhecer a fundo seus sonhos e desejos mais íntimos a fim de torná-los uma prática.

            Conselhos, na grande maioria das vezes, são bons quando são atualizados e bem construídos. Aqueles emitidos por profissionais do ensino, de consultorias, ou seja, por pessoas cujo ofício consiste no desenvolvimento intelectual e profissional de outras, são cobrados porque fazem parte de orientações eficazes. Esse serviço é demandado por pessoas que buscam uma outra visão, mais experiente e externa, sobre algo que não estão conseguindo perceber.

            Desconstruímos, portanto o ditado popular. Os conselhos são valiosos. Eles, porém se tornam ineficazes quando as pessoas não conseguem efetivar suas ações e deixar de lado um sofrimento por estarem imersas em uma repetição circular, ou seja, após algum tempo, retornarem ao mesmo ponto, como se estivessem andando em círculo. Assim nasceu a Psicanálise: Sigmund Freud não abandonou a sua paixão investigativa numa época em que se trabalhava com sugestão pós hipnótica a fim de que alguns pacientes pudessem se livrar de comportamentos que lhes causavam sofrimento. Ele observou que muitos, após algum tempo de alívio, voltavam a sofrer por questões semelhantes. Como se a dor apenas migrasse em sua localização.

            A dor de não perceber caminhos novos é grande. Profissionais hoje investigam isso. O que é novo para cada um é um desafio a encontrar. Não adquirir a liberdade em relação a antigos padrões, porém,  é um sofrimento de outra natureza. A psicanálise propõe a apropriação de repetições e ressentimentos que estão muitas vezes dentro de cada um, mas sem possibilidade de reconhecimento e domínio. Uma investigação que requer uma escuta do que é antigo e ultrapassado e que insiste, em reprise, a causar padecimento. 

            Quando os conselhos são considerados bons, por quem os recebeu, podem se tornar próprios enquanto novos caminhos, porém, quando eles mesmo assim não são eficazes, porque foram apenas apropriados de forma teórica, pois algo desconhecido segue impedindo-os de serem praticados, faz-se necessário investigar resistências e desenrolar o que está amarrado. Quando a repetição impera, um trabalho clínico descoberto na virada do século passado e redescoberto a cada dia pode transformar repetições em lembranças e ações em novidades.

Simone Engbrecht - psicanalista

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