Aprender com obediência e descobrir com curiosidade


   
Foto: Reprodução
 A aprendizagem pode acontecer por curiosidade ou por obediência. Assimilar ou memorizar qualquer coisa para ser mais reconhecido ou para aplacar o medo de errar é muito diferente de adquirir conhecimento sem uma finalidade imediata e impulsionado
 por uma  curiosidade banal. Qualquer detalhe pode chamar atenção de uma criança que está descobrindo o mundo. No crescimento, infelizmente, muitos perdem esse ímpeto de desvelar mistérios, pois domesticam a sua sede pesquisadora focando a sua existência em informações úteis, contentando-se com a sobrevivência e aprendendo apenas o que outros o fizeram antes.
         Aqueles que seguem curiosos e famintos por interrogações são geralmente os que não desistiram de se lançar na vida viva, são detetives investigadores que não desprezam nenhuma percepção.   Esses são os que não sucumbiram à resultante de uma grande desilusão e conseguem preservar a humildade de novas investidas no universo das diferenças.
Foto: Reprodução
Hoje, a mídia e a cultura infelizmente incentivam a crença de que qualquer um pode realizar todas as suas vontades sem perder nada. Isso com o intuito de incentivar o consumo e a aprendizagem vigiada. Perder a juventude, perder o lugar de filho realizador de ideais paternos, perder o lugar de aluno reconhecido pela aprendizagem obediente, perder um lugar reconhecido no passado, perdas que desacomodam ou deprimem.
Algumas pessoas não fazem de suas relações familiares a sua rotina, pois cultivam a admiração pelo  desenvolvimento do parceiro ou dos filhos. Pessoas que estão em constante processo de amadurecimento são atentas a detalhes de mudança e tem prazer com elas. Alguns pais não sentem, como uma perda doída, cada movimento de independização dos filhos, pois o seu lugar investido não era o de protetores sábios por ensinar, mas o de amantes da curiosidade por aprender.
         A curiosidade é o motor do amor profundo. Relações rasas são as que possuem pouca aderência[i], ou seja, quando perdidas, jogam a pessoa num grande vazio. Elas são alicerçadas na necessidade da aparência de companhia ou de ocupação a fim de aplacar a angústia de sustentar-se só. O fermento do interesse incessante é estar direcionado para o que está adiante do que acalma com a informação superficial. O que dá prazer ao sair da zona de conforto é a  inquietude despertada pelo desejo de navegar pelas águas que não mostram o fundo. Essas águas fazem com que navegadores cheguem a terras desconhecidas e sintam o sabor da novidade em qualquer momento da sua existência.
Simone Engbrecht - psicanalista





[i] Aderência- esse termo é usado em psicanálise para referi-se aos investimentos onde após uma perda, conseguem realizar luto e recuperar uma ligação externa. Já após uma perda em relações com pouca aderência, pode acontecer a melancolia.

Postagens mais visitadas deste blog

O Antigo na Inovação

A Madrasta Da Branca De Neve Foi Naturalizada Como Alguém Que Envelhece

A Finitude o o Envelhecimento