Mudar não é fácil: respeito às resistências


         Mudar não é fácil, porque não é simples deixarmos costumes. Se alguma mudança for realizada sem esforço nenhum é porque já é o resultado de uma outra do passado, mais complicada e que já foi feita antes, ou infelizmente, não é uma mudança profunda e efetiva.  Para realizarmos uma travessia necessária para uma modificação de atitudes é necessário romper a resistência que nos puxa para a repetição.  Essa força está sempre presente e insiste em que a saída para qualquer aflição seja um alívio imediato e não uma transformação.
As lagartas viram casulos- por Karlla Patrícia/bióloga

A vida é feita de tensões, algumas delas até mesmo prazerosas, pois são ansiedades que suportamos quando estamos com um objetivo. O alívio é apenas uma descarga e quem vive dependendo dele, muitas vezes, o confunde com satisfação e felicidade.
A atualidade alimenta um discurso que realiza ao mesmo tempo duas confusões: quem tolera frustrações é masoquista e também para ser feliz é preciso aliviar angústias. Essas duas distorções se utilizam de um alicerce comum no discurso: a ameaça de que os sentimentos possam ser um sinal patológico. Sim, se nos transformarmos em autômatos, consumidores, ou seres vorazes por incorporar o que falta teremos apenas uma imagem anestesiada, digna de ser postada em redes sociais. No entanto, as tristezas, as decepções e as frustrações também fazem parte da vida, quando se respira não apenas para  aparentar, mas quando sentir fortalece uma vivência.
Não queremos mais nada somente quando já estamos mortos, esse parece o tema fundamental encoberto por destruir cada um em sua especialidade hoje em dia. É necessário lembrarmos que a nossa vida não depende de aparências de vida, mas de nossos desejos e valores mais profundos que não morrem com o tempo: isso envolve lutarmos contra um impulso para a anestesia inerente aos humanos.
Foto: Reprodução
Nossos desejos nos lançam em desafios de mudança. As inquietações são raízes importantes que ao mesmo tempo nos ligam na realidade e nos alimentam de uma vontade de nos renovarmos, porque nos sentimos vivos e queremos salvar a nossa vida da mesmice de acomodação rastejante. Comodidade e felicidade nunca andam juntas, pois a felicidade nunca quer anestesia e sim quer viver com intensidade as sensações que nos fazem chorar, dar gargalhadas e fazer com que o nosso coração bata forte dando sinal de vida.
Respeitemos as nossas resistências mortíferas; elas não acontecem para sucumbirmos diante das dificuldades, porém nos oferecem um sinal de que estamos de verdade num  momento de travessia.
Simone Engbrecht - psicanalista

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