Metade de uma laranja madura



Existem formas diferentes de transformar o amor em verbo.  Orientar um jovem, cozinhar com os amigos, dar limite aos filhos, cuidar de um idoso: essas são ações que promovem a entrega do que cada um tem de melhor,  o seu tempo recheado com muita paciência e respeito.  O amor de um casal definido como encontrar a metade de uma laranja, algumas vezes, já foi uma metáfora criticada, pois, para que o amor aconteça em parceria, ele necessita de pessoas inteiras. Refletiremos aqui, porém, sobre a busca da metade da laranja a partir da diferença entre ser inteiro e completo.
        
Foto: Reprodução
Se estivermos buscando a metade de uma fruta para conseguirmos completá-la, lembremos sempre de que,  uma vez que ela tenha sido cortada, não será mais possível colar as metades, o passado não retorna. Sob o ponto de vista das  crianças, o amor é o sentimento de segurança e de alegria presente no interior de laranjas fechadas, ou seja, para elas o universo corresponde  aquilo que elas percebem como o belo na sua família.
O amadurecimento faz com que as laranjas sejam abertas, com que as portas da casa de cada um permaneçam escancaradas para que todos possam sair e retornar. A liberdade acontece quando uma separação  não significa um abandono. Ao amadurecer, cada um adquire outros modos de amar. Um adulto, ao perceber a diferença entre a sua felicidade infantil e as várias possibilidades amorosas vislumbra o desejo de encontrar a metade de laranja por identificação e não por vontade de completude. 
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A metade é uma ótima metáfora para o amor na maturidade, pois somente os maduros percebem a sua incompletude e possuem satisfação com o que realizam, percebendo que a única coisa que completa a vida no sentido de ponto final é a morte. Laranjas partidas dão suco. O amadurecimento desenvolve o prazer com a criação em parceria, sem a vaidade. Casais, no desenvolvimento com a  sua relação com o amor, se tornam apreciadores de sabores peculiares na relação de intimidade. A privacidade, quando não interpretada como propriedade, produz, na fidelidade presente em conversas especiais e singulares, o sumo, o resultado da essência de um encontro amoroso: a vida em laranjas paridas e partidas.
Simone Engbrecht - psicanalista




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