Destinados a mudar


A palavra destino possui dois sentidos interessantes: podemos utilizá-la para nomear o lugar onde queremos chegar ou para falar de uma força que está além da nossa. A relação de cada um com a realidade pode se tornar menos sofrida quando não se faz confusão entre esses dois significados.
     
Foto: Reprodução
   
Em alemão, Schicksal é traduzido como destino e traz a ideia de sorte, Ziel também é um termo  traduzido como destino, mas corresponde a meta, quando queremos dizer que estamos nos dirigindo a um rumo. Iremos nos apoiar nessa outra língua para demarcar uma diferença fundamental: o que está na realidade, além das nossas forças, e não pode ser encarado com um objetivo de mudança ou um destino como um alvo abastecido por nosso desejo. Podemos dizer que nosso destino é ter nascido em Porto Alegre ou, quando estamos decididos a ir a Porto Alegre, também esse será o nosso destino. No primeiro caso, alguém não é responsável por onde nasce, porém, no segundo, o seu propósito é mover-se ao lugar que se torna o seu ponto de fim.
         Não é nada simples situarmos o limite entre o que é possível mudar e quando precisamos nos deixar levar pelo que está além das nossas forças. Desistir ou insistir: um dilema complexo que vai se tornando simples à medida que a vida nos ensina sobre a nossa essência. Ela vai revelando que o nosso destino é um ponto de partida e não o nosso fim. Nascer em Porto Alegre é apenas um ponto de partida quando não encaramos o momento presente como algo sem condição de mudança.
         O passado não condena ninguém que não seja criminoso e ninguém quer ser uma eterna vítima do que já foi um fato. A liberdade de cada pessoa está, portanto, na  possibilidade de virar a página  e colocar um ponto final naquilo que não consegue mudar a fim de alicerçar novos projetos.
Foto: Reprodução
         Tanto para aceitarmos o nosso destino na primeira acepção aqui exposta, quanto para transformá-lo, devemos sempre observar a nossa relação com nossos botões. A psicanálise é procurada para que eles (os botõenzinhos) sejam escutados melhor a fim de provocarem uma conduta marcada por valores próprios e não como uma reação reflexa a um ambiente. Descobrir os nossos desejos em cada atitude tomada é bem importante para não nos enganarmos a depositar as razões para a mesma nos outros.
         Há uma diferença significativa entre considerarmos as atitudes de uma pessoa e percebermos o que pensamos diante do seu comportamento. Alguém comete um crime passional, por exemplo, não é porque foi traído, mas porque não conseguiu pensar sobre o que sentiu e processar a impotência a mudar o acontecimento e o que faria diante dele. Não são os fatos e nem as sensações que precisam nos mover, eles representam apenas o que não é  de nossa responsabilidade. De outra forma, o que pensamos sobre os nossos sonhos é que pode transformar com veemência o nosso destino: uma travessia.
 Simone Engbrecht - psicanalista

Postagens mais visitadas deste blog

Ao Cair a Ficha, Escolhemos

Envelhecer é um Privilégio

A Adolescência da Humanidade