Amor sem conquista
Muitas vezes, renunciamos aos
nossos desejos por não desistirmos de amar. Isso é possível quando ocorre a
compreensão da diferença entre o que é bom e o que é bem.
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As
regras morais auxiliam as pessoas na contenção de atitudes egoístas quando elas
entendem que elas estão sendo agressivas. A consciência, por exemplo, de que,
ao utilizar canudinhos plásticos, mesmo sendo bom tomar um refresco colorido no
sol, destrói o ambiente, barra essa prática. Nem tudo que é bom fazer, faz bem.
Impedir a realização de desejos que podem provocar o mal se torna comum através
da educação e da racionalidade. Porém, a renúncia a um desejo, que possui um
disfarce amoroso, pressupõe uma reflexão ética sobre vivências onde a questão do
alicerce do que se pretende acontece.
Conquista,
como a expressão indica, significa o esforço necessário para uma aquisição na
forma de posse. Ter um namorado, ter um filho, ter um direito: são situações
nas quais o desejo de conquista nem
sempre envolve amor. A intenção de não frustrar os outros pode, de igual
maneira, estar apoiada no objetivo de conquistar a admiração mais do que fazer
o bem. Uma criança, por exemplo, necessita receber limites que a frustram e
isso lhe faz bem.
Se, por
um lado, estamos falando de um amor que sustenta a frustração de um filho ao
necessitar de limites para o seu bem, por outro, estamos afirmando que amar alguém pressupõe abrir mão da
conquista para que o ser amado sinta-se sempre livre. É aqui que especificamos:
o amor é livre quando não está apoiado na conquista, mas no bem do outro. Uma
criança é amada para ser livre não das suas frustrações, mas da falta de autoestima
dos pais.
O amor
não floresce na correspondência a uma carência, mas é gestado no bem. A
liberdade recebida por quem amamos é de não ter que corresponder, por isso o
amor é livre.
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Amar ultrapassa conquistar relacionamentos. Essa ideia pode
parecer um ideal platônico de amor não correspondido, não é. Deixamos claro: estamos
nos perguntando sobre se o desejo de amar atende a uma necessidade de poder por
ausência de amor próprio. É fundamental escutarmos no que apóia uma entrega amorosa, no bem de quem
amamos ou em algum buraco que tentamos tapar. Estar acompanhado de quem é livre é estar
junto conforme a expressão atribuída a Leonardo da Vinci: para estar junto, não é preciso estar perto, mas sim do
lado de dentro. Estar acompanhado é amar as pessoas com a confiança de que
irão usufruir de nossa coerência com o amor e da nossa intimidade e não com a
superficialidade de desejos de conquista.
Simone Engbrecht- psicanalista