Cuidado Frágil
Cuidado Frágil! Alerta de
embalagens que indica que há elementos que estragam com facilidade. Algumas
pessoas parecem carregar algumas plaquinhas dessa ordem, por não oferecerem
resistência aos atropelos da vida. A dificuldade na utilização dessa mensagem,
no que se refere aos humanos, é que não são as mudanças externas que ocasionam a
dor de quem se sente frágil.
Foto: Reprodução |
Bebês são seres frágeis e os adultos se responsabilizam pelo
seu cuidado. Ocorre é que algumas pessoas crescem com uma confusão entre a
causa e a consequência de seus desconfortos. Elas responsabilizam os outros por
suas infelicidades, mas uma frustração se torna um sofrimento insuportável
quando alguém persegue o caminho de tentativa de mudar o impossível.
O nosso plástico bolha, nosso protetor, é construído através
da possibilidade em nos acalmarmos para lidarmos com situações difíceis,
aquelas marcadas por nossa impotência. Errando, se aprende. Resta saber o quê? Perceber
que erramos, de um lado, abre a possibilidade de compreendermos uma nova
estratégia diante de uma situação futura
que se assemelhe a anterior e, por outro, construirmos a humildade para com a
vida que nos ultrapassa.
Aguentar que não sabemos tudo por antecedência, que perdemos
pessoas queridas, que acontecem situações que nos desagradam, permite que a
nossa capa protetora se fortaleça. Os pais ajudam a criança a lidar com as
frustrações quando ela ainda não possui recursos para isso, mas eles não
conseguem eliminar a fonte das frustrações. Podem dar alimento para saciar a
fome, mas a fome virá novamente, pois a vida segue. A fome não pode ser confundida
como causada pelos outros, mas como algo que move alguém que cresce e buscar a
sua satisfação.
Imagem Site Portal da Poesia |
Pessoas deprimidas algumas vezes utilizam ‘cuidado frágil’
com uma expectativa inconsciente de que alguém modifique os acontecimentos.
Esses podem causar vários sentimentos desagradáveis a uma pessoa, cabe a cada
um administrar essa conseqüência, pois as causas, os acontecimentos estão na
grade daquilo que não depende dela. Não se vitimizar e nem se culpar são dois lados da mesma moeda:
os limites entre o que cabe a cada um.
Ao lermos ‘cuidado frágil’, escrito nas entrelinhas das atitudes de alguém,
podemos escolher vestir a fantasia de que somos culpados e responsáveis por
todas os seus estragos, ingressando num lugar falsamente poderoso ou sermos
humildes e nos solidarizarmos com a fragilidade, acreditando que cabe a cada um
aprender a lidar com a vida como ela é, sem disfarces, porém, com muita
confiança no amor.
Simone Engbrecht - psicanalista