O tempo e a vida mais descomplicada


Podes cortar todas as flores, mas não podes impedir a primavera de aparecer.” Pablo Neruda
         As crianças e as pessoas que já ultrapassaram a idade reprodutiva possuem uma grande empatia entre si. Muitas frases são produzidas dando dicas de felicidade marcando como ela está na alegria com pequenas coisas. Mesmo que racionalmente, as pessoas possuam esse conhecimento formal, essa experiência não é nada fácil de alcançar. 
       

Imagem: site Canguru on line 
 
Na infância, flui a alegria franca com um animalzinho, com as mãos sujas de tinta, com a repetição de uma canção. Uma criança pode receber um brinquedo elaborado e encantar-se com o papel com que foi embrulhado. São naturalmente curiosas. A vida para elas é descomplicada, porém também não é complexa.
         Será que é a decepção com os outros, com as frustrações e com a percepção da maldade humana, que faz com que a vida se torne pesada? Talvez não. O humor é estudado em psicanálise como uma possibilidade de rirmos de nós mesmos. Algo complexo e ao mesmo tempo simples, porque descomplica a vida.
         Para que alguém possa brincar com as suas dificuldades, em primeiro lugar, não pode estar numa condição de humilhação. A humildade diante da vida é somente para aqueles que aceitam as suas limitações sem que com isso o seu amor por viver diminua. A transitoriedade[i] não é percebida pelas crianças, portanto, não basta cultivarmos a criança dentro de nós para sermos alegres como elas quando envelhecemos. Um adulto lidou provavelmente com perdas e sente angústias diante de ameaças de finitude de maneira diversa do que uma criança.
Foto: Reprodução
         Onde está então essa empatia na alegria existente entre crianças e adultos sábios? Na possibilidade de valorização do momento presente. Estarmos diante de situações complexas encarando-as com humildade só acontece quando a nossa estima não está sendo medida.
O humor consiste exatamente nessa transgressão diante de uma vontade de quantificar tudo. As vivências propiciam com que possamos ser grandes e, ao mesmo tempo, pequenos. Essa é a característica do humor, quem ri de si mesmo tem uma autoestima tão grande que pode se enxergar pequeno sem se humilhar por conta disso.  
Rimos porque somos leves, mesmo que a vida não seja. 

Simone Engbrecht - psicanalista





[i] Sobre a transitoriedade – livro escrito em 1915 por  Sigmund Freud.

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