A proteção da autoestima abandonando preconceitos
A frase
de Simone de Beauvoir: ‘Querer ser livre
é querer livres os outros’ nos inspirou a refletir sobre a liberdade
presente quando um raciocínio já possui
assegurado o que é ético e pode aceitar outras percepções sem a necessidade de
um julgamento infantil, que busca o certo e o errado em padrões de
comportamento.
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Nos inquietamos ao
perceber que os preconceitos, pensamentos formados antes da solidez adquirida
com conceitos, são portadores de uma rigidez onde somente a maldade penetra. O termo
conceito originado do latim,
“conceptus” indica algo formado na mente, algo concebido. Observamos que a
produção de um conceito não é
realizada pela associação de muitos argumentos, pelo raciocínio, mas a partir
de uma ligação entre pensamento e vivência.
Aceitar a vida como ela é, aceitar as pessoas como são, é um
ato muito mais profundo do que uma indiferença movida pela arrogância do ‘tanto
faz’, ou de que uma escolha movida pela concordância com as atitudes de alguém.
Ninguém nos pergunta: aceita Fulano como ele é?, como uma pergunta de
matrimônio, aceita Fulano como seu ...? Não está, sob o nosso domínio, o
roteiro da vida dos outros.
Preconceitos
são ideias ainda não concebidas, pois ainda não foram gestadas pela
subjetividade. Nosso eu, conforme a Psicanálise, é formado na possibilidade de
separar-se do mundo externo construindo um ponto de vista próprio. No meio
desse caminho, uma das maneiras de diferenciar-se a fim de proteger-se é
atribuir qualquer desprazer a algo externo, julgando o que gosta e o que não
gosta. Isso porque a qualificação de tudo passa por um crivo com apenas um
critério de classificação: se é prazeroso ou desprazeroso.
As
escolhas infantis utilizam os sentimentos como seu único critério, podem estar
iludidas. O infantil não é exclusividade das crianças. Os preconceitos, nos
adultos, podem realizar o engano de que utilizam a razão como sua visão de
mundo, porém a rigidez do seu raciocínio mostra como a maldade se incrusta no
terreno fertilizado por pensamentos
julgadores da vida alheia. Abordamos o bullyng[i]
nas crianças na sua relação com outras. Aqui, estamos falando sobre a presença
dessas ações em diversos grupos, não raro no interior de uma família, na
presença de adultos com baixa autoestima.
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As
experiências de vida vão quebrando os preconceitos quando alguém amadurece, e
pode conceber conceitos com a flexibilidade da curiosidade diante da vida como
ela é. Algumas pessoas não conseguem sair do raciocínio do julgamento
condenatório, pois necessitam de uma defesa em relação a sua baixa autoestima. Qualquer
um que não seja utilizado por uma pessoa para uma autoafirmação do que ela acredita que é através de um aparência, é condenado a
partir de detalhes.
A
autoestima, quando falta, pode necessitar de uma aparência de sucesso para
aliviar a sua carência de reconhecimento. Quem não se reconhece, em seu ser, não possui condições de fazê-lo em
relação aos outros. Somente as pessoas que sustentam um eu sem
a necessidade de seu invólucro de aparências conseguem aceitar os outros como
são, pois possuem conceitos e pontos de vista sempre abertos para a vida e
não preconceitos encerrados na maldade.
Simone Engbrecht – psicanalista
[i]
Bullyng – pratica de violência física ou psicológica, de maneira repetitiva contra alguém através da ações tirânicas
(Bull significa tirano)