A maturidade do amor
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A
carência de amor na atualidade não está no que as pessoas recebem da sociedade,
mas acontece na falta de exercício de valorização do prazer de amar sem a
necessidade em nada receber em troca. Esse tesouro precioso: o mapa que dá
acesso a uma vida com sentido e não uma vida que busca um significado.
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O amor amadurece quando desenvolve no humano a possibilidade
de não necessitar do outro, mas em obter prazer com promover vida de quem ama. Um
bebê ama a sua mãe por depender dela; já um ser maduro ama quando sente prazer
em não necessitar de correspondência a partir do que oferece. Alguns podem
associar essa ideia a um mandamento religioso, ou a um ideal romântico
inatingível. Porém, aqueles que
encontraram a liberdade ao desprender-se
de uma prisão chamada futuro, podem deixar o seu melhor a quem amam no momento
presente.
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Todos
os dias o sol nasce, mas a cada dia em que ocorre essa repetição, cabe um olhar
diferente apoiado na experiência do dia anterior. Assim é a vida humana,
destacada do que acontece por causas lógicas e viva pela complexidade da
criatividade presente nos encontros de cada um com a sua existência. A terra
fica fértil quando é arejada, quando é revolvida: assim é o nosso psiquismo.
Quando o inesperado ingressa na solidez de um barro duro, o humano pode estar
aberto a modificar preconceitos e doar o seu tempo a quem escolhe a partir de
seus critérios e não por convenções. Uma pessoa pode amar alguém que não possui
o mesmo sangue, por exemplo, e desprender-se de alguém que o possui. Amamos com
a possibilidade de nos identificarmos
com a mesma maneira de estar no mundo e de abismar-se[ii]
com ele.
O
desprendimento talvez seja a maior dificuldade do amadurecimento do amor. Pois,
observar que a vida não necessita de seres que necessitam de nós é a possibilidade
do amor existir. Uma mãe que percebe que o seu bebê poderá viver prescindindo
de si mesma, observa que o que dá a ele, outros poderão fazer. Porém, perceber
que o prazer que possui em doar-se é seu a faz uma pessoa especial não apenas
ao seu bebê, mas para o seu amadurecimento amoroso é a única maneira de
tornar-se verdadeiramente Mãe ou Pai. Estranhamente, as mulheres só se tornam mães quando os seus filhos crescem e não necessitam mais delas. Esse é o verdadeiro amadurecimento do amor.
O solo
da vida é fértil quando é revolvido pelo desprendimento de amores infantis que
necessitam de correspondência e de retribuição. O amor é livre quando pode não
se ocupar do futuro por egoísmo ou maldade, mas por enriquecer o presente com a
sua entrega sem retorno.
Simone Engbrecht-psicanalista
[i]
Carlos Drummond de Andrade – O amor e seu tempo.
[ii]
Fall in Love- Abismados em amor, livro de Donaldo Schuler.