Humildade para investigar
A curiosidade é inimiga da desconfiança. Como o termo indica, alguém desconfiado busca uma segurança
que comprove aquilo que imagina, pois não tem confiança na entrega para uma
experiência que desacomode o que acredita que seja sólido. É tênue essa
diferença na superfície dos comportamentos, porém a intenção de uma pesquisa
faz toda a diferença, quando essa está alicerçada na curiosidade.
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O ciúme é um sentimento que descontrola a destrutividade,
pois a sua raiz representa um impulso de dominar o outro. Amar não é ser dono
ou proprietário de alguém. Os sentimentos são propriedade de cada um. Entender
que o outro é a razão de um sentimento torna raso o pensamento, e transforma
uma pessoa dependente de acontecimentos.
Pessoas que defendem ideias apenas para comprovar a sua
hipótese cometem um crime passional contra o conhecimento, que poderiam obter
se não se sentissem humilhadas quando se deparam com enigmas vitais que traem a
sua arrogância, que funciona como uma capa protetora diante da falta de amor
próprio.
A sabedoria que alguns adquirem quando amadurecem é
semelhante a dos pesquisadores. Ambos não envelhecem o seu desejo de entregar o
seu tempo para a vida que os torna humilde diante de informações acumuladas ao
longo dos anos. Uma pessoa centenária ocupada com o meio ambiente é semelhante
a alguém que dedica o seu tempo a investigar um problema singular de alguém que
não faz parte de suas relações imediatas.
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Para investigar é preciso doar. E a condição de possibilidade de doação é exclusiva daqueles
que almejam a humildade da vida como ela é, desacomodando a cada segundo a
memória que trazem na bagagem. Por incrível que pareça, quanto mais recheada é
essa bagagem de experiências ressignificadas, mais leve ela se torna. O que pesa no que se traz na vida é um impulso a repetir o passado a fim de que se esteja preparado para tudo. Somente as vivências
amorosas fazem com que alguém se desapegue desses pesos pesados e se sinta mais
leve para o risco. A humildade está em reconhecer que não estamos preparados para
nada. Se assim estivéssemos, estaríamos pré
parados, ou seja, previamente mortos em vida.
Sábios são aqueles que não falam do passado como sendo ‘o
seu tempo,’ pois se sentem vivos no dia de hoje e conseguem se entregar ao novo
e ao desconhecido com a curiosidade de viver as surpresas da novidade, com a
humildade de não terem sido pré parados para nada, mas apenas tendo recebido a
herança de sentir prazer em des cobrir.
Simone Engbrecht – psicanalista
[i]
Das Unheimliche- livro escrito em 1919 por Sigmund Freud apresentando o tema do
inquietante, a partir do ‘não familiar’ que remete também ao familiar,.