Acompanhados de Oxigênio
Inspirados na temática de namoros renovados pelo tempo, refletimos sobre as trocas que oxigenam e não cobram.
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Na sociedade ocidental, houve
uma mudança nos formatos de casamento
movidos pelo lugar da mulher na esfera pública. Há pouco mais de 50
anos, em nosso país, por exemplo, uma mulher não possuía autorização de crédito
a partir de seu nome próprio. Todas necessitavam da assinatura de um homem,
quando queriam realizar uma simples compra a prazo, ou abrir uma conta
bancária. Casamentos eram necessários para cada uma que pretendesse não ser
mais sustentada por sua família de origem. Mudanças sociais ocorreram e,
associadas a elas, tanto uma grande resistência, como novas formas de encobrir
o desvalimento de cada um dos pares foi sendo construído.[iii]
Qualquer observação nossa, seja nas descobertas de uma
viagem, seja assistindo a um espetáculo, ou mesmo diante de um evento trágico; quando
for partilhada como o pão, transforma uma experiência em um sabor diferente do
que aquela vivenciada de maneira solitária. Acontece que para que qualquer
coisa possa ser compartilhada, duas pessoas precisam alcançar semelhantes
possibilidades de comunicação, seja essa pela palavra, pelo toque das mãos ou
pelo olhar que partilha uma situação. Os pontos de vista não são os mesmos, mas
a intenção em estar com versando sobre o
que se vive faz com que o namoro[iv]
inspire amor.
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O
namoro auxilia a deixar que respiraremos com maior profundidade. O ar entra com
mais vigor não por ter faltado o fôlego, mas porque pretendemos que mais vida
aconteça, mais oxigênio abasteça os nossos pulmões. Sendo assim, podemos sentir inclusive
uma vertigem sem estarmos desorientados, mas libertos de uma amarra que nos
aprisionava enquanto procurávamos apenas a nós mesmos.
A luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres,
mesmo hoje, busca um avanço em relação ao raciocínio culpa-vítima, dívidas
antigas carregadas ainda por essa geração. Partilhar a vida com a companhia de
uma outra pessoa que deseja também estar junto, sem uma necessidade de
desculpar-se através disso ou por medo de perceber-se abandonada, é a abertura necessária para o amor. Não é
necessário muito ar, mas oxigênio nele.
Simone Engbrecht- psicanalista
[ii]
Texto no blog da utora: O amor como horizonte, publicado em 09/06/18.
[iii]
Margareth Mead (antropóloga, 1901-1978) observou sabiamente que ‘quando um sexo
sofre, o outro sofre também'.
[iv]
Namorar- etimologia da palavra- inspirar amor a alguém.