Entre pedir e dar desculpas
Pedimos desculpas a alguém
quando queremos marcar que uma atitude nossa não foi movida por uma intenção consciente.
Darmos desculpas a nós mesmos implica em retirarmos a responsabilidade por
investigar com profundidade qual é mesmo o argumento para uma sensação.
Fonte: Nasa |
Hoje a fim de nos situarmos no espaço, obedecemos à
indicação do GPS. Estar perdido pode desesperar quando há pressa em ‘se achar’.
A fim de que alguém encontre um endereço, há de ter paciência para,
primeiramente, se situar e, somente então, mover-se com direção, deixando de
andar em círculos. Não adianta nada, literalmente em relação ao relógio,
explicarmos quem somos através de um acontecimento passado. Essa é uma visão equivocada que muitos possuem
da psicanálise. Não acreditar mais nas desculpas dadas pressupõe notar que
essas foram caminhos tomados em função de uma fragilidade. Feridas abertas não suportam
qualquer contato, pois parece que esse é que machuca. O problema não está nas
desculpas, mas o que acontece no interior.
Foto: Reprodução |
Qualquer
momento da vida pode ser belo quando não é confundido com uma doença. Deixarmos
de chamar sintomas da menopausa, para observarmos sinais de uma mudança,
deixarmos de considerar o envelhecimento como uma invalidez ou deixarmos de
considerar adolescentes como pessoas deprimidos, corresponde ao movimento necessário
para percebermos a singularidade de cada um diante de cada acontecimento e
ingressarmos numa reflexão.
Encontrar
a essência da vida compreende abrirmos mão tanto das desculpas e das culpas. As culpas são muitas vezes desculpas, isto é, disfarces para nossa ambição de onipotência. Descobrirmos que temos desejos infantis que foram adiados resulta em
percebermos a sua anacronia, descobrirmos que possuímos desejos contraditórios
envolve a nossa liberdade em escolher, descobrirmos que dispomos apenas da
nossa vida e não controlamos e nem somos responsáveis pelo que cada outro ser faz com as suas insatisfações acarreta no nosso limite.
A
observação de nossas limitações é libertadora, principalmente quando deixamos
de nos perceber como vítimas de uma imobilidade provocada pelas culpas e pelas
desculpas. Acreditar na nossa força diante das mudanças que a vida propõe compreende
em nos apossarmos de nossos desejos de modificação. Afinal, o homem não teria ido à lua se não tivesse podido perceber a força de sua pequenez.
Simone Engbrecht- psicanalista
[i]
‘Não acredito mais na minha neurótica’
constitui um trecho da correspondência entre Freud e Fliess em 1897,
quando Freud observou a fantasia na histeria.