Amores sem moldura
No
inicio do século passado, as famílias eram construídas em torno da criação dos
filhos. Casamentos eram indissolúveis. Isso não queria dizer que as relações
amorosas fossem mais sólidas do que hoje; simplesmente não havia o conceito de
separação, então ele nem existia enquanto motor de reflexão, impensável. O amor não acontece por circunstância. Com
o passar do tempo, a cultura ocidental foi diferenciando cada vez mais os laços
de uma institucionalização da relação e, curiosamente, muitas pessoas procuram
uma segurança a partir de fora.
Imagem: Nosso Jornal Rio |
Os
casais só puderam refletir sobre o objetivo que os unia, quando apareceram mais
de uma opção de motivos para isso. Pessoas passaram a trabalhar compartilhando
ideias, quando deixaram de ser uma ‘mão de obra’. Pais não lamentam a saída dos
filhos de casa, pois mantém vivo o desejo de paternidade e maternidade e não de
‘ter’ um filho.
A
liberdade que não institucionaliza relações permitiu uma abertura de
responsabilidade para que cada um se situe no tempo e no espaço. As
fragilidades individuais, muitas vezes, buscam curativos externos para serem
encobertas. Quando isso acontece, as molduras são procuradas para enfeitar um
quadro. Casamento, filhos, trabalho podem acontecer apenas para que alguém se veja
adulto, mas não se sinta maduro.
Muitas
festas, por exemplo, acontecem para institucionalizar a alegria, manter pessoas
num entretenimento no qual registram sorrisos para a internet. Porém, celebrar um momento
com quem se gosta, cozinhar junto, sentir vontade de ouvir histórias bebendo um
cafezinho são instantes onde a simplicidade fica gravada dentro da alma.
Foto: Reprodução |
Quando
se gosta de alguém, o desejo de estar perto acontece, mas nem sempre há o vice-versa nessa
afirmativa. Nem sempre que se sente vontade de estar com alguém é porque se
gosta da pessoa. As relações foram desinstitucionalizadas, diferenciamos
colegas de amigos, familiares de parentes, amor de casamento. E junto com essa
diferença, alguns vazios podem ser preenchidos pela companhia, sem que as
pessoas realmente ali estejam. Refletir sobre o nosso desejo em estar perto para que alguém seja um personagem de um quadro, pois só existe a moldura é diferente de querer estar com alguém para estar realmente COM. O nosso tempo não está aí para virar passado em
imagem, mas para fazermos dele o nosso presente.
Simone Engbrecht- psicanalista