Envelhecer não é adoecer


         Com as possibilidades abertas por novas tecnologias, a nossa relação com o nosso corpo precisa ser repensada. Hoje, comparado a cinqüenta anos atrás, há uma diferença mais clara entre envelhecer e adoecer, pois o processo de envelhecimento não apenas tornou-se mais longo, porém e principalmente, com melhores opções para lidarmos com limitações.
        
Foto: Reprodução
Alguns sinais podem indicar fragilidades apresentadas no corpo, causadas pelo envelhecimento ou por alguma patologia. É fundamental salientarmos a alternativa proposta pelo OU e não confundirmos. A hipertensão, os cabelos grisalhos, as dores presentes em alguns movimentos podem indicar uma rigidez das artérias, um falta de pigmentação capilar, um desgaste nas articulações ósseas causadas pelo avanço da idade ou pode ser um sintoma de alguma doença cardiovascular, diabetes ou até mesmo um tumor. Uma doença é uma alteração biológica no estado de saúde. O envelhecimento consiste nas alterações biológicas decorrentes da passagem do tempo. Observarmos que envelhecemos, mas não estamos doentes, nos faz revisarmos nossos hábitos de cuidado, sem nos sentirmos vítimas de um mal.
         Tomar acontecimentos concretos da vida para torná-los responsáveis pelo que fazemos com nossa existência é um caminho simplificador e que arrasa com o conceito de subjetividade. Não é raro isso ocorrer, quando alguém busca encobrir alguma angústia provocada por outras fontes, na qual possui potência de escolha, por  um motivo/limite no qual não pode fazer nada. A vitimização e a paralisia são refúgios utilizados quando há uma resistência a inovação.
Fernanda Montenegro- Revista Veja/Abril
         Nos inspiramos em uma frase  atribuída a Fernanda Montenegro: “A nossa sociedade vê a mulher na menopausa como apenas um instrumento de finitude”.  Afirmar, por exemplo,  que mulheres tem sintomas da menopausa consiste em qualificar um período de vida como doença. O fato do ingresso das mulheres no espaço público abriu caminho para que não apenas elas se questionem sobre a sua objetalização, mas interroguem a todos, independente do gênero, sobre o que a sociedade pode fazer ou abusar do envelhecimento do corpo. Um corpo que não reproduz mais não é o de um ser doente ou em vias de extinção, mas uma ‘casa’ que pode ser cuidada e escutada em suas limitações pelo ser maduro que nela habita.
         Um ser maduro e não doente é um ser inovador em 2019. Vivemos em um momento em que mais claramente muitas pessoas podem atravessar os 90 anos: isso é novo. No entanto, é inovador, pois a posição de maturidade e sabedoria com a qual essas pessoas lidam com a vida pode ser inquietante quando percebem que o tempo desgastou o seu corpo, mas a sua essência é cada vez mais livre de enganos. Os maduros inovadores tem a condição de possibilidade[i] de poetas como os cegos, podem ver na escuridão[ii].
Simone Engbrecht - psicanalista 



[i] Condição de possibilidade- termo utilizado por Michael Foucault, antropólogo, nos anos 70.
[ii] Trecho do poema de Chico Buarque.

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