Responsabilidade diante da impotência
"Damos voltas e voltas, mas, na realidade, só há duas coisas: ou escolhes a vida ou afastas- te dela." José Saramago
Ao
reconhecer o Inconsciente, como um sistema no interior do psiquismo, a
Psicanálise formulou uma maneira de compreensão da memória, no século passado,
e propiciou uma abertura para a complexidade do pensamento diante da
fragilidade inerente à condição humana. Não basta afirmarmos a existência de
desejos inconscientes habitantes em nossa existência, é preciso nos
responsabilizarmos pelo que não sabemos, pelo que não temos consciência, tendo
uma postura sempre investigativa e aberta à modificação de nossas hipóteses não
confirmadas.
Imagem: site Dinâmica Ambiental |
Foto: Reprodução |
Um período de mudança é o que estamos vivendo. Sem o julgamento se é uma mudança para melhor ou pior, a mudança acontece no momento presente. Todos estão confrontados com um turbilhão de informações e aquisição de novas rotinas. Ao refletirmos sobre o nosso sentimento de culpa, seja ele consciente ou inconsciente, nos deparamos com a nossa impotência diante do vírus. Se lidarmos com responsabilidade e não com culpa, iremos nos alicerçar na pequena parte que conhecemos e não no desejo de nossa onipotência. Ilusões não são bem vindas nesse momento, pois podemos nos machucar por autopunição inconsciente.
Todos
sabemos que podemos ser transmissores, que a máscara, a higiene e o
distanciamento social auxiliam no combate ao contágio. Essa é a nossa
responsabilidade: lidar com o luto de
nosso narcisismo que nesse momento está ferido e precisa de cicatrização e não
de negação de tristezas ou curativos que o deixam inflamar de maneira
melancólica. Nem culpados, nem vítimas, é preciso lidar com responsabilidade e coerência com quem somos
e com quem pretendemos nos tornar.
Simone Engbrecht- psicanalista